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Parir com prazer! É possível? - Amano Bela (Josie Zecchinelli)

Há algum tempo assisti a um filme lindo, lindo, chamado Orgasmic Birth (parto orgásmico). O filme fala sobre as possibilidades do parto ser um momento de prazer para a mulher, orgásmico mesmo, pois é uma parte da vida sexual da mulher.

A cultura ocidental é tão repressora que nos levou a esquecer que o parto é um evento fisiológico, natural, animal, e não uma doença, que requer toda a atenção médica. É claro que existem alguns riscos, mas eles são baixos, chegam a no máximo 10%, sendo que se olharmos pelo outro ângulo, então 90% dos partos podem acontecer tranquilamente, normais ou naturais, sem que haja risco para mãe ou bebê.

O problema é que pegaram estes 10% e transformaram em regra geral, fazendo com que todas as mulheres tenham que se submeter a situações hospitalares, cabíveis a um doente, em função de algo que é remoto. E muitas das intervenções hospitalares aumentaram este índice de riscos, fazendo com que o parto normal hospitalar se tornasse muito mais arriscado do que um parto que acontece naturalmente, sem intervenções. E a grande maioria das mulheres deixou de ter uma experiência de parto natural, ativa.

Quando o parto pode acontecer naturalmente, a mulher tem uma experiência transformadora, completamente diferente, e a relação com a dor muda de figura. Pois a dor do parto não é como qualquer dor, ela é nada mais que o movimento do corpo para que seu filho possa nascer. As contrações musculares uterinas são semelhantes às que acontecem quando a mulher está tendo um orgasmo e os hormônios produzidos pelo corpo quando o parto é natural são exatamente os mesmos do momento sexual, do orgasmo, mas potencializados de tal forma que em nenhum outro momento a mulher terá tal quantidade de hormônios circulando. Ou seja, o corpo dela está preparado para uma experiência de prazer.

No entanto, muitas coisas podem interferir na liberação dos hormônios. A presença de pessoas que não respeitam o ritmo da mulher, as intervenções físicas, como colocação de soro, o exame de toque freqüente, o ambiente não acolhedor e frio, o fato de não poder se movimentar ou comer livremente, a crença na incapacidade de parir e de saber o que é melhor para si e para o bebê, medos e traumas profundamente arraigados na mente, tudo isso são fatores que geram tensão e estresse.

Todo tipo de tensão faz com que o corpo libere substâncias que causam efeitos opostos ao dos hormônios do parto no corpo da mulher, como adrenalina e cortisóides. Estes hormônios fazem com que seu corpo se contraia ainda mais, se tensione, se feche, e isso atrapalha a continuidade do parto, ocasionando mais dificuldades e dor.

Os movimentos do corpo que antes poderiam ser percebidos como prazerosos, quando a mulher está relaxada, agora se tornam dolorosos. Por isso, a escolha do parto precisa se tornar um escolha da mulher. Quanto mais bem informada ela estiver a respeito da fisiologia do parto, sobre os benefícios do parto natural, sobre suas possibilidades de conseguir passar por isso, sobre o que acontece na formação médica e porque eles agem com tantas intervenções, sobre os mitos que são tratados como verdades e muitas vezes usados para induzir a mulher às escolhas que não são as melhores naquele momento, melhor será a experiência de parto das mães e bebês.

Mesmo que nas contrações haja alguma dor, após o parto, as mulheres que tiveram partos naturais relatam que passariam por tudo novamente, pois a dor desaparece assim que o bebê nasce, e muitas vezes a dor é mínima, ela é sentida com a percepção de atividade, com o prazer de quem sabe que está sendo ativa, que está fazendo exatamente o que escolheu. A dor está intimamente ligada à forma como a mulher encara a experiência e ao estado de relaxamento ou tensão do corpo.

O filme trouxe cenas lindíssimas de mulheres em expressões de prazer, mesmo nos momentos de luta, em meio a urros, gemidos, ela relatam que naquele momento estavam vivenciando todo o seu potencial, toda a gana de sentir seu filho vindo ao mundo. Para quem assiste de fora, pode parecer algo animalesco, mas para estas mulheres, foram experiências de transcendência, de muito prazer. E logo após o nascimento, vem o momento mágico, pois é o ponto de ápice da liberação de hormônios, de ocitocina. Este momento ainda acontece para poucas, pois poucas têm a oportunidade de apenas ficarem com o bebê, relaxadas, na primeira hora após o nascimento. Esta primeira hora é importante não apenas para a amamentação, mas
também para o vínculo entre a mãe e o bebê. O nível de ocitocina neste momento será o mais alto que a mulher experimentará em toda a sua vida.

Se fôssemos olhar a fisiologia da mulher, seria como o orgasmo mais intenso de sua vida, pois o hormônio é o mesmo, mas em quantidade muito maior. No entanto, isso não é respeitado. No filme, há um cena linda de uma das parturientes que visivelmente teve uma experiência orgástica, seus olhinhos revirando durante as contrações, seu rosto sorrindo, radiante. Fiquei encantada em ver o bebê após o nascimento, de todos os partos mostrados no vídeo, este foi o bebê mais tranqüilo após o parto, sua expressão estava realmente serena, angelical, e ele demorou ainda alguns minutos para esboçar um leve choro, que também durou apenas segundos. A mãe estava também com uma expressão de leveza e prazer como já vi em grupos de meditação, estava em êxtase.

Um filme desses é revolucionário e extremamente necessário, para que mais pessoas possam saber que é possível algo tão magnífico, e é possível a todas, pois a possibilidade de prazer no parto está acessível a todos os corpos femininos, faz parte da natureza da fêmea humana. Basta que a mulher se prepare adequadamente, que tenha informação, suporte e as pessoas certas ao seu lado. Isso significa também ter a equipe certa, escolher profissionais humanizados, médicos que respeitem a natureza e que estejam em dia com as evidências científicas (que mostram que tudo é favorável ao parto natural). Um médico humanizado e bem informado irá realizar o pré-natal da melhor forma, irá verificar as possibilidades de um parto natural, se a gestante é de baixo risco, e a mulher irá confiar de que ele realmente está lhe passando a informação correta, baseada nas evidencias cientificas e pesquisas atuais, e não em mitos, crenças, e rotinas hospitalares que não têm mais cabimento, que já foram derrubadas pela ciência, e só prejudicam mães e bebês. Um médico bem informado e humanizado só fará uma cesariana se for realmente necessária, em caso de emergência. Um médico assim ainda é minoria e quase raridade, mas eles existem, é possível encontrá-los. E mesmo que em sua cidade não haja, com informação e vontade, é possível ter experiências menos traumáticas e mais prazerosas, pois uma mulher bem preparada pode virar um leoa no momento do parto, ela sentirá toda a sua força e ficará menos vulnerável às manipulações que infelizmente ocorrem no ambiente hospitalar. Para que tudo isso aconteça, a mulher precisa ser ativa, precisa ser responsável pelas próprias escolhas e poder ir em busca do que quer.

Parir com prazer! É possível? - Amano Bela (Josie Zecchinelli)

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