Pular para o conteúdo principal

Fimose: Você sabia?

Em quase todos os recém-nascidos o prepúcio recobre a glande e a ela está aderido, o que o torna irretrátil.

A impossibilidade de exteriorização da glande, devido a aderências ou à pequena abertura do meato, denomina-se fimose, considerada normal entre os recém-nascidos.

Em sua sabedoria, a natureza visa proteger a glande e o meato uretral externo das assaduras, infecções e traumatismos.

Ainda no primeiro ano de vida o prepúcio começa a se descolar da glande; aos 6 meses 75% dos meninos ainda têm o prepúcio aderente; com um ano, a metade; aos dois anos, 20% e, aos quatro, a separação torna-se completa na grande maioria, podendo permanecer, entretanto, pequenas aderências que não costumam exigir qualquer forma de tratamento.

Sendo a fimose entre os recém-nascidos um achado normal, as indicações para a circuncisão, ou seja, a retirada cirúrgica de parte do prepúcio, são muito restritas. A circuncisão é um procedimento antigo, de, pelo menos 6.000. De acordo com Heródoto, os egípcios foram os primeiros a praticá-la. Antigamente, era praticada por vários motivos, quase todos sem uma indicação médica, como marcar escravos, identificar tribos secretas, como parte de cêrimonias de iniciação da puberdade ou em obediência a ritos religiosos.
GARDNER, em seu livro “O Destino do Prepúcio”, confirma o fato de serem muito raras as indicações médicas. Mesmo assim, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, houve um tempo em que havia uma verdadeira perseguição ao prepúcio, atribuindo-se a ele a culpa por dificuldades na limpeza do pênis, infecções, câncer de pênis. Em alguns locais a operação tornou-se rotineira e todos os pais eram consultados sobre a circuncisão ou não no filho.

Como costuma acontecer, o exagero e o desrespeito à natureza tem um preço. As complicações da circuncisão, como a estenose do meato urinário, desvios do jato urinário, aderências fibrosas, hemorragias, septicemias, abscessos renais, passaram a ocorrer com mais freqüência, sendo responsabilizadas até pela morte de algumas crianças. Esse quadro fez mudar a conduta em inúmeras maternidades, que, hoje, permitem a operação somente com indicação médica justificada ou por motivos religiosos, caso dos judeus.

A circuncisão, em nossa opinião, estaria indicada quando o prepúcio impede a visualização do meato uretral, mesmo quando tracionado, obstruindo o jato urinário e consequentemente, ocasionando dificuldades miccionais, que podem ser a causa de infecções urinárias recorrentes. Outra indicação dar-se-ia quando das infecções recorrentes no pênis, devidas à retenção e infecção do esmegma, denominadas balanopositites. A dermatite amoniacal (assaduras), as balanopostites e as tentativas para dilatar a abertura do prepúcio utilizando-se "exercícios" que eram ensinados às mães até pouco tempo atrás, em vez de melhorarem a situação, acarretam um estreitamento maior do orifício prepucial-fimose secundária - e podem tornar obrigatória a circuncisão em crianças que poderiam ter o problema resolvido espontaneamente.

Não se deve confundir com fimose os casos de prepúcio grande, retrátil, em que se pode ver a glande com facilidade, e aqueles em que há um freio que prende uma pequena parte do prepúcio do pênis. Em resumo, a princípio, o melhor é não fazer nada e aguardar a natureza; nos raros casos em que ela não resolva espontaneamente ou surjam complicações, a circuncisão será indicada.

Algumas pessoas, entre as quais não me incluo, acham que essa cirurgia em recém-nascidos possa ser feita sem anestesia, "porque eles não sentem dor". Não é verdade. A verdade é que, imobilizados, não tem como reagir, a não ser urrar, o que sabem fazer muito bem.

Para quem duvida do papel protetor do prepúcio, aqui vai uma história, que eu testemunhei várias vezes. Marcelinho, dois anos, chegou no meu consultório com o prepúcio em frangalhos. Estava andando pela casa e viu uma gaveta semi-aberta em um móvel baixinho. Começou a brincar de abri-lá e fechá-la. De repente, seu "peru" foi olhar o que havia dentro. Marcelinho fechou a gaveta e quase o decepou. O prepúcio foi sacrificado, mas a masculinidade do Marcelinho foi salva.

Do Livro: "Você sabia? Erros comuns nos cuidados com as crianças", do Dr. Antonio Marcio Junqueira Lisboa

Comentários

  1. Muito bom o texto, pesquisei muito esse assunto por causa do meu filho e é tão raro encotrar opiniões sensatas como essa. Também gostaria de recomendar essa outra fonte que encontrei, que sanou muitas das minhas dúvidas. Hoje tenho a convicção de que a circuncisão é um procedimento clinicamente desnecessário na maioria dos casos!

    ResponderExcluir
  2. Muito bom o texto, pesquisei muito esse assunto por causa do meu filho e é tão raro encotrar opiniões sensatas como essa. Também gostaria de recomendar essa outra fonte que encontrei, que sanou muitas das minhas dúvidas. Hoje tenho a convicção de que a circuncisão é um procedimento clinicamente desnecessário na maioria dos casos!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigada por contribuir com seu comentário!
Todos os comentários são lidos e moderados previamente.
Estamos dispostas a ajudar no que for preciso!

Postagens mais visitadas deste blog

Parir sorrindo

Para quem já viu é sempre bom rever, para quem não viu e acredita que parto é a pior coisa do mundo, ta aqui a prova de que, com bons profissionais e pessoas dispostas a ajudar, o parto pode ser uma experiência de muito prazer! Muito lindo!

Homeopatia e Alopatia: você sabe a diferença?

Por Rosana Oshiro O momento em que a doença afeta nossos filhos é o de maior preocupação para nós que somos pais e mães. Logo queremos levá-los ao médico para que receite algum medicamento que os livre "daquele mal". Já falamos aqui e aqui sobre a febre, e o hoje vou falar de duas principais formas de tratamento de doenças infantis: Homeopatia e Alopatia. Você sabe a diferença entre elas? Quando ouvi falar sobre homeopatia pela primeira vez, imaginei ser algo como "remédio de curandeiro" ou uma "simpatia" e nem dei muita bola...huahuahuahuahuauha Conversando, certa vez, como amiga que cursava faculdade de "Farmácia" ela me explicou de forma simples e clara que: - Homeopatia é o tratamento feito com substâncias "iguais" às da doença, buscando combater a doença como um todo. - Alopatia é o tratamento feito com substâncias "opostas" às da doença, que busca combater os sintomas das doenças. Depois, pesquisando mais e lendo sobr

Licença maternidade no Japão

É comum as mulheres trabalhadoras não conhecerem seus direitos e deveres quando gravidas no Japão. Recentemente, recebi várias instruções no curso de japonês que realizei pela JICE e gostaria de passar para as que estão em duvidas de seus direitos. Vou escrever por tópicos de forma bem clara e simples, caso alguém tenha alguma duvida, pode me escrever pela guia de contato ou deixar seu comentário no post que terei prazer em esclarecer. Vamos lá! - Como já disse em uma postagem anterior, toda mulher gravida no Japão, que não tem o hoken (Shakai ou kokumin) deve providenciá-lo o mais rapido possível, porque só através dele é possível receber os benefícios que a lei concede. - A mulher que trabalha, há mais de 1 ano com o mesmo empregador (se for empreiteira pode ter mudado de empresa), e tem o Shakai Hoken há mais de 1 ano também, tem direito a licença maternidade remunerada em 60% de seu salário normal, durante o período da licença. - O periodo de licença é de aproximadamente 98 dias,